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LER É MUITO LEGAL
O livro é um bom amigo que está sempre do nosso lado esclarecendo dúvidas, ajudando a construir o conhecimento que precisamos e mostrar a beleza da nossa língua.
Levar para as crianças livros que despertem
o interesse da turminha de estudantes é um desafio de todos os dias. Nós sabemos disso.
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O mundo de fantasia e sonho, nos livros infantis,está cada vez mais belo. Voai!
Cecília Costa
Diante da realidade espantosamente brutal, violenta, diante da infância perdida entre a falta de ética e a dureza dos corações adultos — obrigados a usarem uma carapaça no peito para se protegerem dos tiros e dardos inimigos, reais ou metafóricos, mas sempre letais — onde se proteger? Nos livros. Nos livros.
Que janela de beleza abrir, onde ainda cantem rouxinóis, beija-flores, bem-te-vis? Onde estão os jardins secretos, nos quais dançam gnomos e fadas, e as borboletas colorem o azul com suas asas de nácar? Nos livros, sempre nos livros. Crianças, correi para os livros. Neles há prados e vales onde podeis brincar livremente, há unicórnios com estrelas na testa que os levam à lua, para visitar o homem da lua e comer doces de nuvens preparados por mulheres brancas como cristais de neve. Crianças, buscai os livros. Neles há páginas gordinhas como almofadas, e histórias de fazer sonhar, de fazer rir, ou de fazer chorar ternamente pelo próximo. Histórias de fazer meninos e meninas dormirem um sono tranquilo no meio das guerras vãs, dos loucos tiroteios, das tolas competições por poder e dinheiro.
Crianças, abri vossos livros. Lá estão o conhecimento e a beleza. Lá está a felicidade. Sim, a felicidade é aqui, nas páginas dos livros. Que podem ser descobertos na Bienal de São Paulo, ou em quaisquer bienais. Na livraria da esquina ou biblioteca municipal. Crianças, buscai vossa biblioteca municipal. E se vossa cidade não tiver uma, fazei passeata na porta da prefeitura. Já imaginastes encontrar lá dentro um “Patinho Feio” de Andersen, o maior contador de histórias da História Ocidental, o sapateiro que no ano que vem completaria 200 anos se estivesse vivo?
Ah, se estivesse vivo que nada. Andersen esta vivo. Seu “Patinho Feio” foi lido por milhares de crianças de todo o mundo e sempre será lido. Que feio não quer um dia se descobrir belíssimo? Um cisne elegante e branco?
E sabeis, crianças, foi este o livro que inaugurou todos os livros infantis no Brasil, a cores. Quando em 1915 os irmãos Weiszflog, imigrantes hamburgueses — e futuros donos da Companhia Melhoramentos de São Paulo — começaram a publicar livros no Brasil, quem escolheram para editar? Andersen. E foi assim que o comovente “Patinho feio” abriu caminho para a produção de livros infantis no Brasil, antes composta apenas por importados. Em 2004, a Melhoramentos, comemorando seus 104 anos, resolveu reeditá-lo em seu formato original. Que delicadeza!. Pena que nem todos poderão ter acesso a este pequena joia literária. Livrarias parecem não gostar de vender “obsoletos” fac-símiles. Mas outros “Patinhos feios” estarão nas estantes, com a imaculada brancura dos cisnes. E também os novos “Soldadinho de Chumbo”, “O sapo”, “O criador de Porcos”...
E há muito mais felicidade a ser catada como pérola ou conchas do mar nas livrarias. Obras de mágicos escritores brasileiros e estrangeiros, que nos fazem voar na vassoura da imaginação. Olhai para os lados. E isso é só uma pequena mostra. Outras preciosidades estão para chegar. A Estação Liberdade, por exemplo, está preparando para vós, gurizada, um bálsamo para o olhar: Fábulas de La Fontaine ilustradas por Chagal.
Ah, que felicidade!!!
* Cecília Costa – editora do suplemento Prosa&Verso, O Globo, publicado em 17.04.2004